Quebrar as amarras. Pintar os cabelos de vermelho. Eles já são. Cortá-los bem curtos então e deixá-los laranja. Fazer as unhas e por esmalte preto, usar aquela blusa super decotada que você comprou num impulso e guardou no fundo do armário porque morria de vergonha de alguém ver você vestida com algo tão diferente do seu comum. Ligar pro trabalho e dar uma desculpa para não ir. Melhor, dizer que não está a fim de trabalhar hoje. Entrar no carro e deixar que ele te leve sem se preocupar com a volta. Por você não sabe mesmo se quer voltar para o que tem.

Revolta? Acho que sim. Um dia acontece. Você acorda e percebe que nunca vai poder ser você mesma porque todos estão acostumados a seu modo de ser (insosso). A sua praticidade, as soluções sempre encontradas, ao braço na hora necessária e a você sempre estar ali. Disponível. Esperando apenas um sinal para se aproximar.  E por ser diferente, por achar que não precisa ser igual, você fere e é ferida porque o mundo não está preparado para ver você agir de uma maneira que não seja a que todos já conhecem de cor.

Palavras duras de engolir, frases sem nexo e mais dor. Recortes de uma vida inteira jogados na lama como se nada tivessem sido. Um ato, um desejo e põe tudo a perder. Vira a mesa e dessa vez fica por baixo. Mesmo assim, com toda “pseudo-revolta” fecha os olhos, conta até mil porque não quer devolver na mesma moeda. Não quer dar o que não quer receber. E pensa porque nesse mundo todos esperam que sejamos iguais? Porque? Porque quando há paixão tudo é permitido, mas depois que ela amorna, seus medos, vícios, tiques, manias, chatices sempre serão mais importantes do que a essência que os uniu?

- Isso é uma pergunta gata?

Na verdade um desabafo Wal. Mas se você quiser responder fique à vontade. Sempre gosto de ouvi-lo.

- Talvez porque essa tal de essência nunca tenha existido. Não acha?

Sabe o que eu acho Wal que as pessoas são muito corajosas para usar as palavras na hora que desejam machucar e ferir. Mas quando se arrependem e percebem a m#@$%a que fizeram não possuem mais a mesma coragem para pedir desculpas.

- Quer respirar fundo?

Sempre faço isso Wal. Hoje quero ser diferente comigo. Não quero baixar a guarda e aceitar passivamente o que me dão de ruim.

- Você está magoada gata, antes de tomar alguma atitude, pensa bastante onde você vai querer estar daqui a meia hora.

Deveriam ter feito isso comigo ontem à noite... Agora quebrou de vez.

- Pode ser que cole...

É. Pode ser. Mas será que vou querer remendo?